sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Engano

Chegou com corpo de carpinteiro, quem dera tivesse o coração,
aproximou-se do meu mundo deixando as estradas na contramão...
Procurei ler em seus olhos alguma coisa perdida, algum sonho,
pressentiu, sorriu para mim, me deu um aviso tristonho...

Não precisou de voz, mas, feriu os meus ouvidos,
que aquilo, agora era sabido, se tratar de um corpo em evolução...
quis me impressionar o meu observador de cais...
não conseguiu seduzir-me, mentiu até o fim, até a verdade dele
ficar sem gás...

Triste, olhei o horizonte, procurei em alguma linha,
a razão de ainda estar presa a ele, porém, nada me vinha...
Certa vez trouxe-me um gesto, acho comprado em alguma esquina,
foi um beijo magro, com mais ensaio que emoção, o qual devolvi, ou melhor,
ficou onde estava: entre o lábio dele e a minha língua que se esquivara...

Isso doeu nele, senti todo seu corpo gelar,
era agora o meu boneco de neve, o meu brinquedo da hora,
que teve receio de se desintregar...
susurrei em seu ouvido que gostaria mesmo, é que ele
não tivesse medo de se entregar...

Saiu de perto de mim com o propósito de se recuperar
soube dele, por algumas línguas, que enlouquecera, quando
em sua cabeça errante, nosso romance quis terminar...

Hoje, exatamente hoje, cavalgo cavalos alados em estradas de
poeira, morro de saudades daquelas brincadeiras,
imagino que estou andando em águas azuis,
dentro de mares azuis, procuro aqueles olhos azuis...
e a chuva me responde e me molha inteirinha com seus
pingos gelados e azuis...

Adeus carpinteiro,
adeus marinheiro,
adeus aquela neve,
adeus aquele mar,
quero voltar urgentemente...
ar, a respirar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Canção despedaçada

Eu sou encantada,
a tua outra parte que deixaste
no ar...
Se ainda te respiro,
não sei, mas,sei que diante
da tua voz, tremo e
sigo teu olhar sem nada
encontrar...
Sou a tua parte borrada
que necessita ser reescrita
na pedra, no cais,
Urgentemente

Queria está perto de ti,
manter nosso mundo
encantado, mas, a vida
se mostra sob várias faces e
a que eu separei para ti,
se perdeu ...
ao se defender
de tuas inconstâncias...

De todos os sonhos
só restou o mar, um jardim vazio,
um medo de amar...
A saudade que me deixa com frio
e o desejo mórbido de um dia
te reencontrar...

Musa ou poetisa?

Impressionada com o tamanho da tua alma,
com sentimentos esborrados, mas, que nunca saciam
nossa vontade de teu mundo...
escrevendo sobre a morte, ou sobre a vida, sobre igrejas...
tudo tem cheiro de mar, de flores
é como imaginar num vazio, um cantinho cheio de amores
Que bom! que tão bem expressas a vida,
mesmo quando a saudade diz: Ai! ,
quando percebo em ti algumas dores...
mesmo assim, inundas meu mundo
com tuas cores...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Grades

Muito já se falou sobre liberdade... entre quatro paredes,
principalmente fora dela, o ser livre acomete alguns pobres
mortais como eu, de dúvidas e por que não dizer medo...
A liberdade já desembrulhou vários pacotes sufocados, mas,
para surpresas de muitos, embrulhou várias vidas da melhor
forma possível, para que ela, a liberdade, sentisse segurança.
Então, o que dizer de um revolucionário que busca a liberdade
dentro de si, e se surpreende, carente de espaços fechados...
necessaríamente fechados, fechados para sonhar em paz, para
acordar em paz, fazer tratados com a própria vida, sentir-se forte
novamente, fechado para poder respirar melhor...
No auge de minha inocência enxergava a liberdade desprovida de roupas,
de paredes, de regras. Em estado primitivo, essa liberdade em meus devaneios
corria nua nas ruas, nos campos , cidades e só ouvia o som do vento,
da chuva, do silêncio, eu tinha certeza de que ela era livre, nada a envolvia,
a não ser esse conceito concreto de suavidade, de total ausência de peso, de roupas,
de paredes, como eu a admirava! E falava para mim mesma: É assim que tem que ser,
e instintivamente, impulsivamente, pratiquei a liberdade... até que se esgotasse dentro
de mim a última gota do nada, do vento batendo em meus cabelos, das horas que aconteciam
sem minha vigilância, era apenas eu, eu e um espaço todo livre para treinar meus soldados
da maneira que quisesse... como me sentia poderosa, até que esses soldados, mais tarde descobri, eram meus fantasmas que lutavam dentro de mim, por uma liberdade estranha,
"limitada", que para poder pensar em voar, necessitava de grades.